Proposta Pedagógica

Objetivamos desenvolver sempre uma comunidade/escola centrada em uma pedagogia viva, que entende a criança como protagonista de sua história, que respeita a cultura da infância em sua multiplicidade e que é comprometida com a construção de um espaço seguro para rever o racismo e outras formas de opressão que caracterizam as nossas relações cotidianas.

Não há uma linha pedagógica pré-estabelecida, mas sim um conjunto de princípios que estruturam e norteiam as atividades cotidianas com as crianças. Para a sustentação deste fazer, a equipe busca sempre a autoavaliação, o diálogo aberto através dos encontros de supervisão e momentos de escutativa, além da realização constante de cursos e atividades formativas.

A seguir, elencamos alguns pilares que estruturam o cotidiano das crianças.

O desenvolvimento infantil

Optamos por desenvolver nossas ações educativas baseadas no respeito ao desenvolvimento infantil. O trabalho é construído diariamente, assim como são diárias as avaliações que as educadoras fazem do trabalho realizado. Saber o que se irá desenvolver com as crianças depende, basicamente, de três fatores:

  1. Conhecimento do desenvolvimento infantil e das necessidades de cada faixa etária;

  2. Conhecimento e observação sensível de cada criança, suas interações com outras crianças e com o contexto em que estão inseridas;

  3. Observações dos interesses e também dos desafios que as crianças apresentam individualmente e coletivamente.

Acreditamos não haver parâmetros rígidos para o desenvolvimento infantil. Cada criança - em sua singularidade - constrói seu aprendizado e suas descobertas em seu próprio tempo. Seu desenvolvimento, desde o nascimento até o andar ereto, percorre um longo caminho, cheio de etapas que gradualmente vão amadurecendo o aparelho motor. Isto se dá pela conquista de uma consciência que, aos poucos, ajuda o corpo a se diferenciar do ambiente que a cerca. Este despertar da consciência da criança começa com o olhar e termina com o andar. Para que todo o processo se desenvolva harmonicamente, o adulto deve oferecer um ambiente seguro e propício para suas descobertas motoras.

A segurança ao andar é seguida pela aquisição da fala. A capacidade de nomear e mais tarde expressar sentimentos, desejos e pensamentos, insere a criança no mundo da cultura e a aproxima dos outros seres humanos. O pensamento é o passo seguinte do desenvolvimento. Linguagem e pensamento desenvolvem-se de maneira articulada e integrada. Contribuir para a capacidade do pensamento crítico livre é ajudar na formação de sujeitos ativos.

Observação ativa - respeito às individualidades

A criança está no centro do nosso olhar e é ela quem nos mostra o melhor caminho para seu desenvolvimento integral. Nesta perspectiva, a observação ativa é uma ferramenta poderosa para as educadoras, pois é através dela que podem conhecer profundamente cada criança.

As interações que surgem desta forma de estar com as crianças são promotoras de crescimento e de processos de aprendizagem de forma autônoma pelas crianças. Nesse sentido, as educadoras atuam, ora como observadoras, ora como parte integrante do grupo. Os bebês, no entanto, precisam ser atendidos em suas especificidades e para isso são agrupados em uma turma à parte.

Considerando o desenvolvimento infantil, estabelecemos três grupos distintos:

  • Crianças em processo de aquisição da marcha;

  • Crianças que andam e estão desenvolvendo a fala;

  • Crianças que andam com segurança, comunicam-se através da fala e usam o banheiro com certa autonomia.

O brincar

O brincar é a linguagem essencial das crianças, e elas devem experimentar suas manifestações legítimas enquanto um direito. Para isso, devemos assegurar que elas tenham tempo e espaço adequados para experimentarem a si. O brincar é o meio pelo qual a criança explora o corpo, o movimento, a criatividade, a imaginação, e a autonomia. É onde ela experimenta coragem; criatividade; resiliência; capacidade de relacionar-se com seu entorno; é a maneira na qual ela descobre o outro; a capacidade de colaborar e de perder e ganhar, de produzir cultura e experimentar suas interações sociais.

Quando falamos de uma pedagogia centrada no livre brincar, falamos de um fazer que vai além de uma ludicidade pedagógica e que tem como prioridade garantir o tempo e o espaço para o brincar autônomo e íntegro que parte das crianças e a elas pertence, onde o protagonismo passa a ser delas.

Corpo, espaço, movimento

Entendemos que o desenvolvimento da criança está intrinsecamente relacionado com sua experiência corporal, a inteligência desenvolve-se por meio da exploração do espaço e dos objetos. A criança pequena expressa-se através do seu corpo e, por isso, precisa encontrar um ambiente seguro e propício às suas explorações e descobertas. Conhecer o próprio corpo, a natureza dos objetos, aprender a equilibrar-se, andar, pular e correr são alguns dos inúmeros aprendizados da criança. Para que construa essas habilidades, ela precisa de liberdade de expressão e de movimento.

Interação social

A interação social é um dos alicerces do trabalho com crianças e da formação dos sujeitos. Aprender a conviver em grupo é fundamental para o amadurecimento do ser humano, para o desenvolvimento da capacidade de cooperação e para o respeito às diferenças. Isto exige a existências de contextos que trazem diversidade de narrativas e diferentes lugares de enunciação para dentro da escola.

Educação étnico-racial

Ao longo do processo pedagógico com as crianças, a equipe, com representatividade negra, passou a levar como valor prioritário a igualdade e a equidade racial. A desigualdade racial, a ausência de famílias e crianças negras na escola, passaram a ser questionamentos significativos dentro da comunidade escolar. Isso desencadeou um processo de busca pelo letramento racial entre familiares e equipe, que passou a reverberar no fazer com as crianças.

Para o cotidiano das crianças, a equipe caminha em busca de garantir com que as referências pedagógicas levem em consideração a educação étnico-racial através de livros, narrativas, histórias, brinquedos e quanto mais se puder agregar a este compromisso.

Além disso, juntamente com o grupo de familiares, o maior objetivo é criar condições para que a escola possa acolher, significativamente, famílias negras. Há uma delicadeza nesse objetivo, pois precisamos criar uma escuta empática de suas necessidade e cuidar para que nossas pedagogias e experiências façam verdadeiro sentido na vida dessas famílias, permitindo com que elas sejam protagonistas nessa construção.

Para que as políticas de ações afirmativas como esta sejam consistentes e tenham efeito no cotidiano da escola, é necessário que uma comunidade inteira esteja implicada nessa construção.

Ritmo e rotina

A criança pequena é, em um certo sentido, desordenada e tende à expansão. Para que ela se organize e sinta-se segura, podendo desenvolver seus processos de crescimento com harmonia, é preciso oferecê-la ritmo e rotina. Sendo assim, na Quintal existe uma rotina estabelecida com o objetivo de atender as necessidades específicas das diversas fases do desenvolvimento.

Entre os horários de alimentação, um movimento de pulso – expansão e recolhimento – preenche a rotina diária. No lugar dos conteúdos curriculares, guiamo-nos pelos interesses das crianças, pela bagagem cultural dos educadores e pelas trocas que nascem da relação entre eles.

As crianças têm tempo para desenvolver suas brincadeiras e fazer suas descobertas sem pressa, sem serem aceleradas e a partir de sua curiosidade sobre o mundo, da alegria de estar em grupo, das necessidades de desenvolvimento do seu organismo, da imitação do adulto de referência e das possíveis e inúmeras propostas de atividades que o educador avalia fazer sentido para o grupo.

Dentre as atividades consideradas expansivas podemos citar: brincadeiras com água, exploração do espaço, correr, transpor obstáculos, pular, pega-pega, pintura, dentre outras. Já para ajudar a acalmar e reorganizar um corpo que se expandiu, pode-se propor: contação de histórias, brincadeiras simbólicas, brincadeiras com tecidos, caixotes, bonecas, argila, desenho, massagem, etc.